Escrever com chuva é covardia. Ainda que perdido em meio aos arranha-céus metropolitanos, tenho mania de fechar os olhos ao menor pingo d´água que me molhe a fronte. Aí eu estou em Acari.
Não existe maior representação de felicidade que a visão das nuvens engolindo as cordilheiras, derramando sonhos na cabeça do sertanejo, fugaz alegria.
O vento úmido carrega sorrisos, crianças - pés descalços e semblantes de satisfação - correndo pelas biqueiras, brincadeiras sem ter fim até que ecoe o grito de "passe pra dentro".
Aí é ainda melhor, recostado a uma cadeira de balanço, enrolado na coberta espiando a festa dos passarinhos enquanto o dia vai embora.
E vem a noite dos grilos e dos sapos, da conversa na calçada, luz acesa até altas horas da noite, teto sem forro.
Outro pingo, outra lufada da brisa fria e confortável. Abro os olhos, capital, céu cinzento.
A chuva parou.
E recomeça.