quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Maria

Maria corre no meio da rua, doida pra ver José, despida de luas, carregada de leite, integralmente mulher, Maria não tem dono; são as crias, as crias, suas proprietárias, pra elas Maria não arreda pé, esteja onde estiver Maria se deixa pertencer, sua sonhos em favor delas; José impaciente espera séculos de segundos, e ao surgir, cabelo molhado e roupa caseira, Maria desfere os primeiros cheiros, ele cai atordoado diante da supremacia do desejo, Maria ignora o tesão dele, aliás irá sempre ignorar, só se deixa gozar com o macho das crias; cria machos no seu universo peculiar, para ludibriar seu instinto de fera; vai com fúria insana no olho do macho, esguicha sêmen em forma de palavras ternas; Maria assassina o desejo de tê-lo engolindo-o por inteiro com sua teia de conversas vãs; Maria grita corpo, mas não move um dedo para levantá-lo nas suspeitas; assim faz Maria, vaporiza, e evapora insinuações.

José move-se com lentidão, meio incrédulo, mas meio gozado, despede-se; quando verá novamente a alma tonta que o embriaga? Maria, numa displicência programada marca qualquer dia e pouco mais tarde liga pra acertar detalhes; a voz é simples, a conversa também, mas o cio é longo e pode ser medido, vai ao satélite e reflete no celular, os corpos gemem de gozo, risinhos discretos denunciam a tara, mas Maria dispara qualquer palavra bomba de realidade, José imagina que é só delírio, ele pira em confusão, Maria em erupção; e em sucessivas tramas ela transa com seu macho em gozos vulcânicos liberando Josés na atmosfera do seu universo paralelo; o seu macho ofegante e extasiado de prazer , dá-lhe um respeitoso beijo depois do coito, Maria agradece a virilidade do parceiro, derrama-se em carinhos e doçuras; pra José fica a dúvida...


Jaécia Bezerra de Brito

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Conversa de perdedor:

Serei objetivo. Estive entre os dez finalistas do MPBeco deste ano, com a música "O Riso". Durante a final, realizada no sábado passado (25/09), defendi a canção junto aos outros 9 concorrentes, até aí nada demais. Comentei com todos os colegas que a final deveria estar sendo gravada com uma qualidade boa de áudio, dado o alto nível de todas as composições e tudo o mais. "Exceção seja feita à essa música desse tal Maguinho da Silva, que, pelas caridades, não serve nem pro lixo", foram minhas palavras no dia. Mas não vamos entrar no mérito do gosto pessoal.

O que me fez sair do meu cantinho e escrever um texto, então? O resultado, amigos, o resultado...

Na hora do anúncio dei aquela murchada tradicional, de quem esperava um pouco mais... não ganhei nadinha. Mas saí tranquilo. A única coisa que me inquietava era o fato da maldita música do cara ter vencido. Fiquei, porém, calado. Daí me chega Eduardo Pandolphi, meu parceiro na composição concorrente, com uma cara de decepção maior do mundo.

"O que foi, Dudu?".

"Pádua (Antônio de Pádua, jurado do festival) acabou de conversar comigo. Ele tá extremamente puto".

"O que foi, Dudu?".

"Ele disse que o resultado foi arranjado, Yuno (Yuno Silva, também jurado) confirmou."

Pois é, amigos, aí é que eu fiquei chateado de verdade. Perder é uma merda, em qualquer circunstância. Mas perder roubado é revoltante.

Ao que consta, vejam bem (carece de uma investigação mais apurada, tô escrevendo como perdedor, não como jornalista), é que o jurado Carlos de Souza (nunca ouvi falar, não sei nem quem é) teria dado nota mínima para todos os concorrentes e nota máxima para o eventual vencedor (saindo do local destinado ao júri, o amigão Maguinho da Silva o esperava para um caloroso abraço, mas isso é detalhe). Isso de acordo com os próprios jurados. Que beleza, hein?

É de uma desonestidade muito cara de pau, né não? Gente ruim. Gente que não presta.

Do lado do MPBeco, fica a decepção pela falta de preparo. Até os desfiles de escola de samba são mais bem preparados. Uma medida simples, como o corte da maior e da menor nota de cada concorrente, impede safadezas como a que parece ter ocorrido.

Eu não averiguei detalhes, repito, isso é conversa de perdedor, não de jornalista.

E para quem acha que eu tô escrevendo isso por achar que o vencedor deveria ter sido eu, calma aí. Na pior das hipóteses, eu seria o terceiro colocado, né? Mas nem nisso acredito, havia concorrentes mais fortes e que também não ganharam nada (Lunares e Júlio Lima, só pra citar dois exemplos rápidos - tá, o Lunares levou o voto do público, mas me refiro aos prêmios de 1º, 2º e 3º lugares).

Bem, eu juro pra vocês que quero muito estar errado. Quero muito que me respondam esculhambando, que eu sou um idiota e péssimo compositor. Um despeitado.

Mas com provas, por favor.

Cleo Lima.

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Tudo começa com 1Kg de feijão

Minha mãe estava disposta a comer do pior feijão conceitual que poderia existir, um feijão dado por um político de última hora, nas primeiras circunstâncias de um ano eleitoral, porém a data favorecia. A criatura se armou de uma sacola plástica, óculos escuros, chinelas de marca (qualquer uma), um carão de humildade, e se postou na fila quilométrica; lá na frente, o político era só sorrisos, acenos amistosos, cumprimentos calorosos, apertos de mão e até abraços efusivos.

Ela deve ter consultado o relógio do celular pelo menos cinco vezes, mas nada de chegar a sua vez; a morosidade da fila devia-se ao fator registro, cada cidadão deveria assinar um papel dando conta do recebimento. E haja assinatura; O sol de rachar esquentava as conversas e queimava as insinuações sobre a procedência do produto, mas tudo acabava em banho maria, pois a data, mais uma vez comentada, era favorável às práticas que poderiam dar na vista em um dia comum.

Um ônibus cheio de turistas parou bem do lado da fila para pedir informação e antes que chegasse ao político bondoso, ele se esquivou numa saída estratégica para o banheiro; Os ajudantes do benévolo cidadão se adiantaram a qualquer pergunta e disseram o porquê de tamanha generosidade. Os turistas, estupefatos, perguntaram onde vendia cerveja, ou qualquer coisa que matasse a sede; Alguns ajudantes quiseram ainda dar maiores explicações, mas o motorista já dava sinais de impaciência com tamanha enrolação e meteu o pé, deixando a assistência falando sozinha. Logo o pacato e bondoso cidadão voltou à cena, ainda mais sorridente, proferindo uma parábola que não me vem à memória.

Minha mãe passou o resto da semana sentindo os pés, o resto do mês cozinhando o feijão, mas segundo ela de consciência limpa, afinal pagara uma penintência ao entrar em fila tão grande aos 65 anos e ceder lugar aos mais idosos que ela; Além do mais não havia mal nenhum aceitar uma esmola na Sexta-Feira da Paixão.

Quem dorme muito sossegado é o dito político, afinal é um homem bondoso, lembra dos eleitores até na Semana Santa; A consequência natural é o partido fortalecido, pronto a ajudar os cidadãos sempre com uma boa desculpa. O bom político tem variadas datas no ano, minha mãe as mesmas desculpas.


Jaécia Bezerra de Brito

quarta-feira, 7 de abril de 2010

O Bem-te-vi



Era uma vez um Bem-te-vi. Beeeem-te-viiiiiii. Ele fora concebido, chocado e nascido numa belíssima e frondosa árvore. Dessa árvore ele fez suas primeiras tentativas de vôo, e, surpreenda-se, conseguiu. Foi lá que ele construiu suas memórias. De passarinho, é verdade, mas memórias.

E ele foi crescendo, amadurecendo, adultescendo, por que não? Sempre numa invejável simbiose com a árvore. A árvore, seus ramos, seus frutos... aquilo era sua vida. De lá, bem do alto, ele via tudo o que se passava. E a vida seguia calculada, reta, tranqüila.

Um dia saiu a bater asas, abraçando o ar. Deu seu habitual passeio, mergulhou no riacho, tomou sol e cantarolou duas ou três melodias. “Bem-te-viiiii”. E voltou para sua casa.
Qual não foi sua surpresa ao perceber, na volta, a árvore cinzenta, macambúzia. No que pousou, sentiu um espinho machucar-lhe o pé. Mas resolveu deixar de lado, deitou no ninho e dormiu. Estranho mas dormiu.

Dia seguinte, mesma coisa: Passeio, riacho, sol, melodia. E a árvore do mesmo jeito: Cinzenta, macambúzia, espinhenta. E machucou o outro pezinho. O que estava acontecendo?

Dias vão e o Bem-te-vi não sai mais do ninho. Tem medo de se machucar mais e mais e mais. Afinal, a cada dia que passa os ferimentos vem ficando mais fundos, mais doloridos. Ele se sente mal, por não ter mais a forte simbiose com sua tão querida árvore. Seu canto não é mais o mesmo. “Tris-te-viiida”.

Em um fim de tarde qualquer, ele desiste de ficar parado, esperando a vida passar. Sai para mais um passeio, quer ver sua linda árvore de cima, como sempre. No primeiro agitar de asas, mal se deslocara no ar, um espinho corta-lhe o pescoço delicado. Ele sente o sangue molhando as penas do peito, mas precisa continuar. Chega, finalmente, ao ar livre. Voa para longe de sua árvore, de seu espaço, seu bem-querer. Sobrevoa alto, sentindo o ar frio magoar a ferida aberta. De lá ecoa o canto de “Tris-te-vida”. Dolorido, amargo.

O passarinho, bem, o que há de se fazer? Está lá, teimoso, esperando um milagre. Esperando que a árvore retorne ao seu encanto, suas cores bonitas, seus galhos carinhosos. Mas as forças dele parecem estar acabando... a ferida ainda aberta... E ele chora um choro baixinho de “Tris-te-vida”, sem saber se ainda consegue agüentar a dor e o cansaço ou se simplesmente fecha as asas.

Mestre Sérgio Sampaio

Não fui eu nem Deus
Não foi você nem foi ninguém
Tudo o que se ganha nessa vida
É pra perder
Tem que acontecer, tem que ser assim
Nada permanece inalterado até o fim
Se ninguém tem culpa
Não se tem condenação
Se o que ficou do grande amor
É solidão
Se um vai perder
Outro vai ganhar
É assim que eu vejo a vida
E ninguém vai mudar

Eu daria tudo
Pra não ver você cansada
Pra não ver você calada
Pra não ver você chateada
Cara de desesperada
Mas não posso fazer nada
Não sou Deus nem sou Senhor

Eu daria tudo
Pra não ver você chumbada
Pra não ver você baleada
Pra não ver você arriada
A mulher abandonada
Mas não posso fazer nada
Eu sou um compositor popular

terça-feira, 30 de março de 2010

Procedimentos

Adapte-se. Essa é a receita do sucesso, tcharaaaaam.

Invente de se impor ao meio... você dança, jovem. Dança lindo.

Fique pianinho, guarde suas convicções pra você e pronto. Nota 10.

Mas nunca perca o sentimento e a consciência limpa aí dentro, senão cê enlouquece.

Saiba sempre que você só quer o bem e se esforça muito pra isso. Errado está o mundo, fazer o quê?

E então... Ufa, respiiiiiiiire.

terça-feira, 23 de março de 2010

Infância

Infância é nascer a qualquer momento, fazendo dele sempre o momento certo. É fazer de problemas, soluções. De tristezas, alegrias. De preocupações, alívio. De intolerância, compaixão.
Infância é olhar ao redor e ver o mundo. E brincar com ele. É olhar lááá em cima do guarda-roupa, tentar pegar a bola e, não conseguindo, exclamar: “Que vida difícil!”. É acordar cedo no domingo só pra sentar na calçada e sentir o sol gostoso na pele, conversando com o vento. Mas o vento não ouve. Não pode ouvir. Nem quando crescer.
Infância? Bem… é meio-fio branquinho, sete pecados, guaraná e ferida no joelho. É banho de chuva, de piscina, de rio, de açude, de mar, menos de chuveiro. É fim de tarde esperando papai chegar do trabalho com balinha. Tomado banho de chuveiro, infelizmente.
Infância é jogo de bola, pára apito, pára grito. E o menino deixa a vida pela bola… só se não for brasileiro nessa hora. É pé de jambo, de goiaba, manga, caju, laranja. É derrubar casa de abelha pra tirar mel. É correr de abelha. É briga na rua e amizade e briga e amizade e não parar nunca. É não cansar-se de cansado, para não perder a paráfrase.
Infância é esconde-esconde, tica, polícia-e-ladrão, amarelinha, barra-bandeira. É pé-de-moleque, chocolate, biscoito, cocada e doce de leite. É fim de semana no clube. É verdura? Nunca! Eca! Já bolinha de gude... Sim! Sempre!
Na infância tudo é parquinho, sorvete, circo, pipoca e alugar desenho animado pra assistir no vídeo-cassete. É aniversário, presentes, brigadeiro, cachorro-quente e mais e mais e mais presentes. É quebrar o protocolo (e o vaso) sempre: Sai já daí, olha o cinturão, olha a chinelada, olha o castigo, olha o choro, olha o tamanho do bico.
Infância é ficar dodói. Gripe, febre, cama, também. É beijo de boa noite, depois do leite morno. É dormir e sonhar. Acordar e viver. E sonhar de novo. E brincar, cantar, dançar, pular, fazer festa. E cair, arranhar, chorar mais. É titio, titia, vovô e vovó.
Infância é “Te amo, papai”.
Infância é “Te amo, mamãe”.
Infância sou eu. É você. É uma saudade que não acaba nunca. Uma saudade gostosa que dá no peito e faz sentir um cheiro de ontem. Mas, taí, esperto é o mundo, que brinca de roda até hoje, né?

Cleo Lima – Para Theo, Daniel, Raul, Liz e Belinha.

quinta-feira, 18 de março de 2010

Constatação

Viver é o suicídio dos que não têm pressa.

twitter.com/cleofender

terça-feira, 16 de março de 2010

Percepção


Um dia, num futuro muito distante, o céu vai estar sob nossos pés. As nuvens terão formas estranhas, vistas de cima. A brisa vai soprar e nos levar pra longe. Nós vamos ver tudo que acontece. E vamos rir, rir bastante. E então eu vou te olhar. E você vai me olhar. E, cúmplices, vamos sorrir mais uma vez, agora vendo a alegria personificada ao lado, transbordando por todos os poros. E ninguém falará nada. Vamos simplesmente dar as mãos e seguir rumo ao infinito, para dar continuidade à nossa jornada. Juntos, como nunca deixará de ser.

Torrente



Primeira experiência de escrever assim. Morto, praticamente dormindo no computador. São seis e meia da manhã e eu ainda não dormi. Vou fazer disso a reinauguração do blog. Uma reinauguração repleta de sentimentos novos. Um coração apertadinho. Uma velha novidade para os que sabem. Voltar, assim, é mais que um ato. É uma audácia. Voltar tomado por sono e um pouco de intolerância. Voltar dormindo, mas com os pensamentos a mil. Voltar com calor, esperando uma brisa soprar tranquilidade.

É, talvez as musicrônicas não sejam mais tão serenas. Ou sejam. Mas eu tava morrendo de saudades.

Que rufem os tambores, eu tô de volta.
 
Easy Curves Program
Easy Curves Junkie