sexta-feira, 28 de novembro de 2008

Tréplica

A vitrola me conquistou logo de cara. E me rendeu a primeira constatação: Preciso de uma com urgência. Tenho uma coleção invejável de vinis, que ganhei de papai. Eles precisam ser ouvidos.

Dois: Não há motivo para preocupações. Forró, mesmo o mais nojento, serve pra dançar. É uma coisa meio irracional, selvagem. Dançar forró é muito bom.

Três: Eu, definitivamente, não sou modesto. Tanto não sou, que sei dos meus defeitos e os preservo. Um deles é não ser muito fã de vinho. Imagino que seria uma pessoa melhor se tomasse vinho. Né? Mas eu vou aprender. Promessa.

Quatro: Não, eu não sou modesto.

Cinco: Smirnoff Ice é muito bom. Esses dias mesmo tomei umas 10, em casa. Só que lá pras tantas fica meio enjoativo.

Seis: Tem uma banda legal, que descobri esses dias. É inglesa, dos anos 70. Como nunca ouvi falar? Eu, hein... (Olha eu me achando de novo). Chama-se Judas Jump. Podem procurar.

Sete: Nada não... mas gosto do número sete.

quinta-feira, 27 de novembro de 2008

Um pensamento rápido.

Eu sou mó novato nesse negócio de blog... mas tenho uma pergunta:

Sou só eu, ou todo mundo pensa assim: "Porque ninguém comenta nessa porcaria?"

Hahahahahahahaha.

Só eu mesmo, pra reclamar sozinho.

Um estranho no ninho

Meu dia começa assim: Perto das sete o despertador toca e eu, preguiçoso, dou-lhe um sonolento tapinha para que deixe de me importunar. Quando o tempo de enrolação chega ao limite, resolvo ceder aos apelos de meu estridente companheiro e me levanto. Gosto de me alongar. Vou calmamente testando meus movimentos, com cuidado para não sucumbir a uma possível soneca que me caia com os cílios abaixo. Todos os movimentos estão ok, as articulações funcionando, a vista alcança até mais do que precisa. Tomo um banho, me arrumo e vou à universidade, munido, é claro, do meu inseparável e high-tech Mp3 player. Sou, pois, um jovem. Teoricamente.
Pois é... Apesar da vista boa, das articulações intactas e de todos os high-techs e Mp3 players, eu sou um jovem apenas teórico. Graças a quê? Às minhas preferências musicais, literárias, cinematográficas, acadêmicas...
Incrivelmente, deu na cabeça das pessoas que todo tipo de expressão cultural necessita de um prazo de validade. Além disso, como se fosse pouco, não apenas é expressamente proibida a audição ou leitura de obras mais antigas, como o herege que se atrever a consumar tal ato está fadado a “incorporar” a idade do material que porventura tenha em mãos.
Sendo prático, muito me estranha ouvir de um amigo:
- Bom dia! O que você está ouvindo aí no seu mp3?
E eu:
- Oi! É o primeiro dos Novos Baianos. Muito bom.
Então...
- Credo! Que coisa de velho!
Aí está, acabaram de me tirar algo muito importante. Das duas uma: Ou não se pode mais ouvir música que não esteja nas paradas de sucesso, ou estão me “expulsando” da minha idade. Ora, daqui a pouco vão me obrigar a usar uns óculos daqueles com as lentes bem grossas, andar com uma fralda geriátrica ou algo que o valha. Aos 22.

Ora, tudo bem que velhice não seja, necessariamente, sinônimo de qualidade, mas daí a limitar-se a lançamentos, em qualquer área, é, no mínimo, um ato de negligência. Quase tudo que é lançado com o nome de novidade, e isso é fato, não passa de uma simples releitura ou, mais raramente, um aprimoramento dos grandes clássicos, seja na música, literatura ou até mesmo na academia. Parece-me muito mais interessante conhecer uma determinada expressão cultural em sua essência do que degustar uma releitura pasteurizada, o que, aliás, se encontra por aí muito facilmente.

O culpado de tudo isso certamente é meu pai, que desde o berço me criou regado a doses de Beatles, Yes, Mutantes. Eis que resolvo visitá-lo por esses dias e, entre uma cerveja e outra, puxo o assunto. Faço toda uma defesa da boa música, dos gloriosos anos 70, dos filmes de Fellini, Louis Malle, Buñuel, Polanski. Falo ainda do preconceito que sofro, por conta de ter uma - pretensa, diga-se - visão mais ampla das artes em geral, e aproveito para alfinetar essa “juventude mal-assessorada” dos dias de hoje, que gosta desses forrós eletrônicos, das micaretas da vida, que perde tempo assistindo programas de gosto duvidoso na televisão, etc, etc, etc. O que papai me responde?
- Meu filho, você está parecendo um velho, falando!
Antes de desmaiar ainda pude ouvi-lo, que tão bem me ensinou a pensar assim, dizer:
- Você precisa dar uma ouvida nesse pessoal novo da black music, nos rappers... Tão aí fazendo o maior sucesso!
O que eu pude concluir disso? Já estava quase encomendando uns óculos (5 graus, no mínimo, de cada lado), juntando um dinheiro para os remédios e pensando no futuro dos meus netinhos quando me deparei com uma frase do genial (e falecido há muitos anos) pintor Pablo Picasso: “Leva-se muito tempo para ser jovem”. Foi aí que eu percebi que, realmente, eu sou um estranho no ninho. Mais uma vez com pretensão – e, claro, um orgulho enorme – me senti jogando no time de Picasso e de meu pai, figuras que tanto admiro. Pessoas normais nascem jovens e morrem velhas. É o curso natural da vida. Pessoas anormais – como papai, Picasso e eu – Nascem velhas para, depois, descobrirem a juventude.

Hoje.

Hoje eu, num mau-humor danado, nem queria escrever nada. Só uma foto bonita mesmo, pra melhorar meu ânimo. Achei um artigo (artigo?) meu de uns tempos atrás. Apesar de "velho" ainda está novo. E fala disso.

-Vamos a ele?

(em coro) - Vamos!

sexta-feira, 21 de novembro de 2008

Um dia desses.

Três e meia. Marinésio se despede dos carros, mansões e cervejas na praia e olha de lado. A mulher emana um ronco compassado, discreto, até. No chão, ao lado da cama, um colchonete abriga castelos, princesas e fadas, além das duas filhas. Levanta ainda inebriado pela riqueza inconsciente. Lava o rosto e vê a ilusão descer ralo abaixo. Pensa: “Tá tarde”.

Os amendoins e castanhas estão embalados desde a véspera, como de costume. Junta tudo num só volume, um fardo. Calça o sapato com a sola solta, põe duas broas de milho na bolsa surrada, pede proteção ao céu e sai.

Ao ganhar a rua, Marinésio anda olhando pro chão. O céu já está indeciso, multicor. Atravessa ruelas de barro irregulares, o fardo pesando. Na vista, apenas casebres com a porta fechada. E vai, vai. Ao passar a BR, senta no meio-fio e espera a condução. Com o céu já lilás ele sobe no “Tambaú” lotado.

A viagem- sim, viagem- é turbulenta. Com o saco de amendoins e castanhas entre as pernas, Marinésio luta para não adormecer de pé. O calor se aproxima. Numa freada brusca, o equilíbrio pede licença. Ah, não fosse a senhora gorda sentada ao lado... Ótimo amortecedor. Depois de muitas desculpas e caras feias a viagem segue.

Quando nosso ambulante desembarca na praia de Tambaú já são quase seis e meia. Ele apruma o peso da mercadoria nas costas e começa a peregrinação pela orla pessoense. De cara, encontra um casal de idosos caminhando. A última coisa que um casal de idosos compraria durante um cooper seria um saco de amendoins, não é? Mas são almas boas, se compadecem de Marinésio e compram não um, mas três saquinhos. E agora? Não tem troco.

-Pode ficar, não tem problema.

Nosso herói agradece a gentileza com um sorriso desfalcado e segue seu rumo. E vão surgindo turistas, mais gente caminhando, concorrentes, crianças de patinete. O calor aumenta, o fardo pesa. Ele olha pro sol como quem implora por piedade, os olhos ardem muito. E segue, segue.

Quando imagina que passou das onze horas, Marinésio, que há muito arenga com uma pontada no estômago, resolve parar pra comer as broas de milho. Pede água num boteco, e o garçom, abusado, enche um copo na torneira. Enquanto mastiga as broas sem gosto, Marinésio pensa: “Hoje vai dar certo!”.

Após o desjejum, a caminhada continua. E vendendo mais, mais, mais. O fardo vai ficando mais leve, o bolso, mais pesado. Enquanto percorre o calçadão, vê uma boneca de plástico jogada, já toda retorcida pelo sol. Lembra das filhas em casa, disfarça a vergonha e se abaixa para pegar o brinquedo, guardando-o na bolsa. Por volta das duas da tarde o calor aperta, impiedoso. Marinésio pára e contempla o mar pela primeira vez, desde que começou sua jornada de hoje. Sente a brisa aliviar as chicotadas do astro-rei, mas é só ilusão. Logo o castigo recomeça. E o pobre vendedor vai andando mais devagar, quase se arrastando. A boca árida pede clemência. Junto de uma lufada de ar, vem um punhado de areia, que incomoda bastante. Um turista estrangeiro observa, penoso, o calvário de Marinésio. Aproxima-se e, por meio de gestos, dá a entender que pretende comprar o restinho de sua mercadoria. Nem era muita coisa, mas fazia tempo que o fatigado ambulante não tinha essa sensação de dever cumprido. Vendera tudo.

Pensava na volta pra casa, mas sentia as pernas desobedientes. Estava totalmente sem forças, acabado, derretido pelo sol. Sentia-se tonto. De repente, como que por mágica, tudo parou. Marinésio teve um pensamento, acompanhado de um calafrio. Nada mais importava, nem o sol, nem o mar, nem o brilho das estrelas. Foi como um lapso temporal, uma sensação indescritível. Ele reuniu o resto do ânimo que tinha e marchou apressado até a barraca defronte. Sob o olhar maldoso dos funcionários, pensou, pensou, pensou; fez contas e mais contas intermináveis. Depois de muito confabular consigo mesmo, meteu as mãos nos bolsos e tirou toneladas de moedas, jogando-as em cima da mesa mais próxima. Sentou-se, piorando ainda mais o semblante dos garçons, e começou a contar aquela infinidade de centavos tão suados. Contou, recontou, conferiu, conferiu de novo, e mais uma vez, e outra, e outra. Então o tempo parou novamente. Se me perguntassem o que é felicidade eu precisaria de uma foto. Uma foto desse momento. Eu, certamente, teria muitas dúvidas sobre o que é medo, apreensão, tristeza... Mas felicidade, agora, seria muito fácil de exemplificar. Marinésio olhou para o garçom que já vinha em sua direção, para expulsá-lo. Olhou com um brilho tão intenso nos olhos que o rapaz estremeceu. Abriu um sorriso tão lindo, mas tão lindo, que, daquele jeito, nunca houvera sido registrado nas praias da Filipéia. Estava longe de ser plástico, é bem verdade. Um sorriso estragado, falho, desfalcado; lindo, sincero, contagiante. Nessa hora o sol amenizou-se, a brisa soprou fresca, o barulho da rua cessou e o mar ficou ainda mais bonito. Marinésio, domando sua euforia da melhor maneira que era possível, conseguiu apenas murmurar:

-Uma cerveja.

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Enfim...

O Personagem perturbou muito. Não me deixou dormir. Em breve ele nascerá.

O personagem

Tenho uma estória interessante na cabeça. Faz exatos 6 meses que tô pensando nela. Já coloquei personagem, tirei personagem, mudei o perfil de cada um deles... enfim...

Hoje tava aqui pensando, vida de personagem é muito ingrata. Eu estaria puto, já. O protagonista da estória já foi pastorador de carro, vendedor de óculos, de amendoim, de castanha, de rede, pedinte... Acho que se ele pudesse ter vida própria em algum momento, certamente haveria de vir tirar satisfações comigo:

-Ô camarada, dá pra você parar com esse tirinete de ficar mudando minhas ocupações, por obséquio? Tá pensando o quê, bicho?

Pobre personagem.

Ah, esqueci de mencionar que nem nome ele tem. Já pensou? Que triste! Eu mudo a ocupação do cara o tempo todo e nem sequer me dou ao trabalho de batizá-lo. Eu sou danado.

O pior é que pensando nisso eu fiquei aborrecido com a insolência do Personagem - Pronto, já ganhou até "p" maiúsculo. Tá aí, todo se fazendo de coitadinho. Vou me vingar, colocar um nome bem sacana nele. Aguardem, que logo eu venho aqui e escrevo tudo.

terça-feira, 18 de novembro de 2008

 
Easy Curves Program
Easy Curves Junkie