terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Breve retorno - História de vida.

Como assim?
Mas eles muito mal se olhavam!
Eles nem percebiam!
Eles não imaginavam que o dia estava pra chegar...


Ela se debruça na janela, contando as estrelas prometidas. Apenas prometidas.

***
Essas aí eles não as via. Ocupado, varando mais uma noite de TV e sofá. Satisfeito com a cômoda ilusão de um amor já cotidiano.

***
O céu está belíssimo, sopra uma brisa agradável. Mas que brisa inoportuna, que agita a única nuvem do cenário, perante seus olhos! Por fim, desiste de lutar e permite que a mágoa chuvosa despenque como uma tempestade no chão de concreto.

***

Seu braço, onde ela repousa suavemente a cabeça, começa a formigar. Fita-a com ternura quase fraternal durante longos momentos. Consegue trocar a incômoda posição e passa a acariciar docemente os cabelos daquele ser que, de tão delicado, mais parece um bibelô.

***

Apesar da chuva que lhe salta pelos olhos afora, ela permanece contando as estrelas. Um choro, dessa vez infantil, interrompe a cena. Ela corre a acudir a única estrela que ele fora capaz de lhe dar, dentre um universo inteiro que prometera. Estrela essa que nem lhe fora dada por vontade própria... blablablablablablablablablablablablablablablablablablablablablablablablablablablablablablablablablablablablablablablablablablablablablablablablablablablabla.

***

Com os carinhos, ela acorda. Olha-o primeiro assutada, depois com uma expressão aborrecida. “Será que eu não posso mais dormir?”. As palavras, inconscientemente afiadas como uma navalha, vão entrando pelos ouvidos adentro e dilaceram cada pedacinho de alma espalhado pelo corpo dele, que ainda tenta se redimir, “Me desculpe, meu bem”. “Só saia daqui e me deixe dormir”.

***


Ela volta à janela, mas já não quer mais contar as estrelas prometidas e que, sabe, não lhe serão dadas. Aliás, mas que tolice, como acreditara que estrelas pudessem servir de regalo a alguém?

***

O caminho para casa é curto, porém sombrio e solitário. Pára a observar o céu. Noite belíssima. Vê aquele monte de estrelas e sente um profundo desgosto. Sabe que não adianta dar vazão ao seu romantismo. Sabe que não adiantaria nem mesmo juntar todo o firmamento em um balaio decorado com as cores do arco-íris ou as matizes da alvorada. Nada adianta. Ela foca toda a sua aguçada sensibilidade em outros interesses. O que resta é chegar em casa, ensopar o travesseiro com seus desapontamentos e colocar algo dos Beatles pra tocar, como de costume. Então...

***

Cansada de janela, de noite, de brisa e tudo o mais, deita, sozinha, na cama grande e fria, não sem antes dar uma última espiada no berço. O barulho da rede na sala lhe inquieta, não consegue relaxar. O jeito é ligar, baixinho, o rádio na mesinha de cabeceira. Soam os acordes de uma canção dos Beatles. Então...

***

Adormece. (If I fell in love with you, would you promise to be true and help me understand?)

***

Adormece. ('Cause I've been in love before, and I found that love was more than just holding hands.)

***

Os dias seguem mais ou menos assim. As variantes são mínimas. Ela já botou na cabeça que estrelas nem sequer existem. Ele tem certeza de que jamais encontrará a musa de toda a sua inspiração.

Desistem, pois, de vez e seguem, solitários, suas estradas. Dedicam, cada um a seu modo, o tempo às amizades. Encontram-se noites adentro, sempre acompanhados por copos, garrafas e romances fugazes.

A aproximação é mais que natural. As farras ficam mais recorrentes e exclusivas.

***

Nossa! Ela... bem... talvez ela seja sensível. Não aparenta, tudo bem, mas, olhando de pertinho, ela tem uma energia quente, forte. Uma energia que eu não tinha visto, ainda.

***

Bem, eu posso estar enganada, mas acho que vi um pedacinho de estrela nos olhos dele. Não, não pode ser. Isso não existe.

***

E eles já ficam muito a sós, são grandes companheiros. Um dia, juntos como de costume, ele sente aquele calor, aquela energia transbordando dela. Mas não, não pode ser. E aumenta, aumenta. A tarde anda a passos largos quando ele se vale da força do ímpeto.

Os olhos se fecham. Quando finalmente voltam a esse mundo, já é noite fechada. E não há sequer uma estrela no céu.

7 comentários:

Marcelo Tavares disse...

Eita bexiga... O homem voltou com o verbo na ponta dos dedos. Texto fodástico. Um dos melhores, sem dúvida. Palmas, meu filho. Manda brasa nesse teclado.

Camila Costa disse...

Cléo que coisa linda! Tem uns trechos tristes, mas aquela tristeza bonita, sabe ?

Ora pois, quem há de não crer nas estrelas ? Alguns.

Mas somente esses que chamariamos tolos insensíveis encontram admiração e ficam intrigados naquelas nobres sonhadores que passam pelo menos 1 terço da noite conversando com as contelações.

Foi um ótimo retorno, mesmo que breve.

Mila ;*

Anônimo disse...

Que lindo!
Eu imagino bem quem são os personagens dessa história de amor...
Parabéns pelo excelente retorno.

Beijão

CCL disse...

Nhoiiiin que liindo :B

Dyana A. disse...

Veio à tona lembranças tristes...

Mas o bom de tudo isso é que vc consegue nos causar ou diria acordar uma infinidade de reações e sentimentos, às vezes juntos, às vezes isolados.

Valeu Cleozinho! Brigada!

Larissa Borges disse...

Hahhahahahah
#)

amanda junqueira disse...

muito legal esses textos, muito mesmo...admirei!
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